domingo, 16 de outubro de 2011

Julia

Calma, como o mar,
voce se dilui nas memórias.
o tempo lhe trás de volta
em um breve sussurro de amor.

O vento límpido do seu sorriso
soprou-lhe a alma pra longe,
mas ainda assim,
te espero
atravessar a rua
e vir pra casa.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Realidade Altruista

A plenitude se estende pelas minhas pálpebras. A calmaria de uma leve brisa gelada se contrapõe contra o calor pulsante de meu corpo. O horizonte se estende ao imaginável e os contornos iniciam-se a tomar forma. Sento-me, quieta demais, e mesmo que desconfiada, aprecio os minutos de uma extensa (e genuína) solidão. Converso com minhas faces, discuto com minhas opiniões e me calo por mais alguns instantes. Pela primeira vez em muito tempo sinto uma felicidade estonteantemente calorosa que me pulsa pelas veias e transborda em um sorriso leve. Não há medo nem decepção, quero estar aonde cheguei, e cheguei onde estou. Tudo isso é meu, obra de meu próprio ser. Algo invade repentinamente e me retira do meu breve estado de ventura. Um som repetitivo e conhecido esgarça-se entre meu mundo destruindo a delicadeza de minhas construções. A paz foge em um instante tão breve que me faz questionar de fato sua presença. O chão treme e a escuridão invade. Tudo volta e ficar tão frio, desconhecido, apavorante. Me abraço protegendo-me da escuridão veloz que insiste em invadir, se aproximando cada vez mais rápida, me engolindo, voraz, dolorosa, gélida, se aproxima, mais rápida, mais rápida, mais rápida....

Os olhos se abrem. A cortina se debate violentamente com o vento da janela.

Hora da realidade.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Vida Veterana


vira-me um sorriso que
em meia volta se desfaz
diz fazer planos comigo
se arrepende e não quer mais.
Cuidado amigo, tenho título de polida
mas as vezes não faço-o merecer.
Ofereço-lhe um ombro amigo,
mas se não lhe interessa,
sem problemas,
mando alguém pra te foder

quinta-feira, 10 de março de 2011

seleção esporádica

Não me fale sobre a naturalidade do Ser. Nosso estado liberto se perdeu há séculos, e ficamos apenas com este protótipo intermediário de ser vivo. Não discorda sobre seus instintos, se só os menciona como justificativas, depois os negando tão ferrenhamente.

Estou farta deste naturalismo seletivo que só vem à tona quando calha. Se o rejeita para explicar sua superioridade como indivíduo pensante, mantenha-se fiel a pequinesa de sua racionalidade. Se esquece de onde vem, nunca entendera o que conduzirá seus próximos passos. Nega-se a ver o que te impulsiona o que te faz escolher, o que é inerente a qualquer estado social. Se pensa que o que te rege são seus conhecimentos tão flutuantes, ira manter-se arranhando a superfície do seu auto-entendimento.

Não somos nenhuma coisa nem outra. Criamos um estado irreal de naturalidade achando que nos livramos das correntes animalescas de nossos antepassados, mas acredite... Elas ainda estão lá. Espremidas em um canto ainda menor de nossa individualidade, negadas como sinal de fraqueza e irracionalidade, os impulsos de ancestrais (e comuns a todos os seres) estão como fundo de todos os nossos atos, de cada pensamento, de cada escolha.Não irá tardar para que tudo se extravase em uma canalização extrapolada, e aí veremos o que nossa naturalidade é capaz . O que não é observado não pode ser compreendido, o que não é compreendido não pode ser controlado.

Para nós, a naturalidade é uma palavra desprovida de conceito e negada em entendimento. Não duvido de nossa racionalidade, mas também não nego em compreender meus instintos.

Veneza

desfaleço-me entre
os trincos desta porcelana
.
cubro-os, mas meus olhos
extravasam
como tinta molhada,
escorrem errantes
e hesitantes.

Lace, por favor,
a minha outra máscara.
não quero mais me ver.

sábado, 29 de janeiro de 2011

última tragada

os copos turvos, sujos,

marcados com batom.

o amargo da noite arranha

na garganta.

melancolia é a pauta de blues.

as cinzas marcam nosso tempo.

nosso amor se desfaz na fuligem

e enevoam meus olhos.

eu entendo você ter ido,

mas por que não quis ficar?

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

último sono

Sentia seu peito subir e descer em uma calma dilacerante. Meu ouvido escutava seu coração que, se contrapondo, batia em um furor compassado, mesclando-se com os meus pensamentos. Como, mesmo tão perto, ainda podíamos estar tão longe? Minhas mãos nas suas costelas te puxavam para mim, mas mesmo com os olhos fechados sabia que se afastava pelos seus sonhos. Seus lábios permaneciam serrados, em um silencio contínuo. O silencio que se perpetuou em nossas almas e se alastrou em nossos dias. Se dividimos nossas vidas, por que então não dividimos nossas vidas? Cada palavra sufocada, cada frase repensada era mais um passo para trás. Nos dessintinizavamos cada vez que nos calávamos. A frieza se escondia em cada dobra de nosso lençol.

Te puxei para mais perto tentando sentir algo. Não sabia mais se aquilo era amor ou medo. Desespero e solidão.

Aonde perdemos nosso amor? Talvez tenha sido nosso descuido ingênuo de acreditar que ele seria absoluto. O arrastamos achando que ele não se fragmentaria, não se despedaçaria, e ele ficou pelo caminho. Nossas imagens ficaram para trás e nos deparamos vazios. É estranho pensar que toda a nossa paixão tenha se esvaido com o viver. Todos nossos planos desiludidos com a realidade. As coisas eram para ser tão mais fáceis e eu ainda me pergunto por que não foram. Tudo parecia simples quando estávamos juntos.

Nos éramos a única coisa que eu realmente acreditava...

O ar se esquecera de como era entrar em meu peito, e eu me esquecera de como era expulsá-lo. Fechei os olhos com força como se quisesse me impedir de ver a verdade, mas agora ela me perpassava e me flechava o peito em uma dor dilacerante. Seu corpo calmo e estável ao meu lado me parecia como uma promessa não comprida. Seu exalar me parecia suspiros de decepção. Eu não sabia mais como ser algo para você.

Te abracei e chorei. Chorei de medo, chorei de amor, chorei pelo presente, passado, e o que nos aguardava no futuro. Chorei por nós... Pelo que fomos e deveríamos ter sido. Eu queria que as coisas tivessem sido diferente. Então, deitei mais uma vez em seu peito e dormi, me despedindo do nosso amor.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Trailler

quero minha vida
enrrolada em nitrato
quero ser vista a meia luz
aos olhares curiosos.

quero meus feitos embalados
em orquestras
quero exclamações e
murmúrios,
gemidos e soluços.

quero-a breve,
exata.
finita e completa.

e meu nome nos
créditos finais.