sábado, 29 de janeiro de 2011

última tragada

os copos turvos, sujos,

marcados com batom.

o amargo da noite arranha

na garganta.

melancolia é a pauta de blues.

as cinzas marcam nosso tempo.

nosso amor se desfaz na fuligem

e enevoam meus olhos.

eu entendo você ter ido,

mas por que não quis ficar?

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

último sono

Sentia seu peito subir e descer em uma calma dilacerante. Meu ouvido escutava seu coração que, se contrapondo, batia em um furor compassado, mesclando-se com os meus pensamentos. Como, mesmo tão perto, ainda podíamos estar tão longe? Minhas mãos nas suas costelas te puxavam para mim, mas mesmo com os olhos fechados sabia que se afastava pelos seus sonhos. Seus lábios permaneciam serrados, em um silencio contínuo. O silencio que se perpetuou em nossas almas e se alastrou em nossos dias. Se dividimos nossas vidas, por que então não dividimos nossas vidas? Cada palavra sufocada, cada frase repensada era mais um passo para trás. Nos dessintinizavamos cada vez que nos calávamos. A frieza se escondia em cada dobra de nosso lençol.

Te puxei para mais perto tentando sentir algo. Não sabia mais se aquilo era amor ou medo. Desespero e solidão.

Aonde perdemos nosso amor? Talvez tenha sido nosso descuido ingênuo de acreditar que ele seria absoluto. O arrastamos achando que ele não se fragmentaria, não se despedaçaria, e ele ficou pelo caminho. Nossas imagens ficaram para trás e nos deparamos vazios. É estranho pensar que toda a nossa paixão tenha se esvaido com o viver. Todos nossos planos desiludidos com a realidade. As coisas eram para ser tão mais fáceis e eu ainda me pergunto por que não foram. Tudo parecia simples quando estávamos juntos.

Nos éramos a única coisa que eu realmente acreditava...

O ar se esquecera de como era entrar em meu peito, e eu me esquecera de como era expulsá-lo. Fechei os olhos com força como se quisesse me impedir de ver a verdade, mas agora ela me perpassava e me flechava o peito em uma dor dilacerante. Seu corpo calmo e estável ao meu lado me parecia como uma promessa não comprida. Seu exalar me parecia suspiros de decepção. Eu não sabia mais como ser algo para você.

Te abracei e chorei. Chorei de medo, chorei de amor, chorei pelo presente, passado, e o que nos aguardava no futuro. Chorei por nós... Pelo que fomos e deveríamos ter sido. Eu queria que as coisas tivessem sido diferente. Então, deitei mais uma vez em seu peito e dormi, me despedindo do nosso amor.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Trailler

quero minha vida
enrrolada em nitrato
quero ser vista a meia luz
aos olhares curiosos.

quero meus feitos embalados
em orquestras
quero exclamações e
murmúrios,
gemidos e soluços.

quero-a breve,
exata.
finita e completa.

e meu nome nos
créditos finais.