segunda-feira, 15 de março de 2010

contiguidade carnal

Os lábios úmidos se separaram por alguns segundos e as palavras escorregaram convidativas pelos veios vermelhos. Entraram pelo ouvido e correram loucas, ardentes pelas veias, passeando por todo corpo fazendo o coração acelerar e a pele se arrepiar em uma névoa quente. O ar preso nos pulmões pediu passagem pela fresta fina da boca, sendo expulso com certa relutância, soando como um som rouco pelos dentes. Os dedos finos, gelados, acanhados pelo tremor, encontraram a superfície quente e palpitante do peito. Sentia como segurasse o coração na palma da mão. Ouvia-o suplicar. Ouvia-o lamentar baixo, recitando sempre o mesmo verso, o mesmo verso. Sentia-o na garganta, quando engolia dolorido, ou respirava em falso. Sentia-o envolta de si, pulsando sanguinoso. Os dentes arranharam levemente o contorno da coluna, caminhando pelos nervos, desenhando as vértebras, navegando nas ondulações das costas fracas, apreciando a estática que transparecia na palidez da pele. Os cílios esbarravam-se tímidos, os olhos fitavam-se brevemente, receosos por transparecer demais. Tornavam-se líquidos, escorriam pelas maças do rosto, aqueciam-se até chegarem aos seios, perdiam-se no abdômen e não retornavam mais. Permaneciam-se soltos, errantes pelos corpos contornados, no ar rarefeito, na terra já distante, simplória, vazia, errante, que recitava sempre o mesmo verso,

o mesmo verso


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3 comentários:

Unknown disse...

Não tenho palavras, a não ser quem sabe... Bravo!

@laisoliveiracm disse...

Veri: http://morangoechampagne.blogspot.com/2010/03/beautifil-blogger-award.html

Beijos, amiga!

Anônimo disse...

Como já falaram... Bravo Bravo! Muito muito muito muito lindo!!