sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Genética das diferenças

A sociedade que vivemos não é nada além de um conjunto de fatores, sendo eles bióticos ou abióticos. São o conjunto de culturas, políticas, religiões, ideologias construídas pelo que acreditamos ser o ápice de nossa evolução: Os seres humanos. Passamos nossa existência tentando desvendar os fatores que interferem no comportamento humano e que estruturam nossa conjuntura social. Procuramos respostas fora, mas esquecemos de olhar para dentro, no sentido mais literal possível.
O que a genética pode explicar de nossa sociedade? Nas ultimas décadas viemos descobrindo o papel fundamental exercido pelos nossos genes na modulação e interações comportamentais, mas isso é explicado em nível individual, agora, como isso pode ser transferido e espelhado em um âmbito social? Para isso é necessário analisar as congruências do comportamento ao nível celular com as relações interpessoais.
A genética é uma importante fonte de informações para a construção e entendimento de um indivíduo, mas não nos esqueçamos do outro fator construtor social: O ambiente. Todos nós somos fruto do meio em que estamos inseridos, portanto o que observamos em uma pessoa não é uma ligação direta com a sua genética, mas uma combinação entre esta e os fatores ambientas constituindo o que conhecemos como Fenótipo
Cada geração é construída a partir da anterior, estamos divididos em dois ambientes, aquele que vivemos agora, e aquele que nossos progenitores viveram e nos ensinam. Como uma replicação do nosso material genético, mantemos uma fita do que nos foi passado e sintetizamos uma nova a partir dos elementos que encontramos nos espelhando no que nos foi dado. A procriação esconde um lado pouco observado (que perpassa os valores de manutenção da espécie), a de perpetuar os feitos de nossos antepassados e dividi-los com as nossas possíveis realizações. Apartir daí, como um crossing over, trocar nossos conhecimentos com semelhantes e gerar novos.
Talvez nossa replicação semi-conservativa seja uma adaptação vantajosa (se não, não a teríamos), mas em nível social pode demonstrar o receio que temos em mudar, nos adaptar ao novo e ao diferente. Somos como endonucleases, Glicosilases, Ligases, p53, prontos para reconhecer e reparar qualquer alteração e modificações que encontramos. Tanto nós, quanto nossos organismos não estão programados a aceitar as possíveis diferenças e nossos padrões pré-programados. O diferente é visto como uma ameaça e se não é reparado, é destruído. Quantas guerras, genocídios, assassinatos, discussões, preconceitos são baseados em algo tão fundamental em nossas vidas. As diferenças são a base da evolução, são a base do nosso convívio social e é o que nos move a descobrir, repensar e analisar. É com base nas diferenças e nas similaridades com o próximo que somos capazes de distinguir o que somos.
Somos os seres que consideramos como os mais derivados, passamos por diversas seleções do ambiente e chegamos no que acreditamos ser o ápice da evolução. Achamos-nos grandiosos por termos a capacidade de raciocínio, de conseguir separar os nossos impulsos (tanto gênicos como animais) e nos enquadrar a um padrão para o convívio social. Talvez devamos ser um pouco mais “degenerados”, aceitando, assim como nosso código genético, algumas pequenas diferenças sem nenhum tipo de preconceito, e sem que elas signifiquem alguma coisa ruim, para que um dia possamos compreender as grandes diferenças. Para que possamos ver nas discrepâncias entre os indivíduos a beleza que torna este mundo vivo e dinâmico (sem pelo qual nos não estaríamos aqui!). Talvez este seja um ensinamento que nossa replicação semi-conservativa deva repassar para a nossa prole. Seja esta a nossa realização que será a fita base para o encadeamento de outras idéias complementares, a realização que a genética explica muita coisa, mas não tudo.

Nenhum comentário: