Os lábios úmidos se separaram por alguns segundos e as palavras escorregaram convidativas pelos veios vermelhos. Entraram pelo ouvido e correram loucas, ardentes pelas veias, passeando por todo corpo fazendo o coração acelerar e a pele se arrepiar em uma névoa quente. O ar preso nos pulmões pediu passagem pela fresta fina da boca, sendo expulso com certa relutância, soando como um som rouco pelos dentes. Os dedos finos, gelados, acanhados pelo tremor, encontraram a superfície quente e palpitante do peito. Sentia como segurasse o coração na palma da mão. Ouvia-o suplicar. Ouvia-o lamentar baixo, recitando sempre o mesmo verso, o mesmo verso. Sentia-o na garganta, quando engolia dolorido, ou respirava
o mesmo verso