segunda-feira, 15 de março de 2010

contiguidade carnal

Os lábios úmidos se separaram por alguns segundos e as palavras escorregaram convidativas pelos veios vermelhos. Entraram pelo ouvido e correram loucas, ardentes pelas veias, passeando por todo corpo fazendo o coração acelerar e a pele se arrepiar em uma névoa quente. O ar preso nos pulmões pediu passagem pela fresta fina da boca, sendo expulso com certa relutância, soando como um som rouco pelos dentes. Os dedos finos, gelados, acanhados pelo tremor, encontraram a superfície quente e palpitante do peito. Sentia como segurasse o coração na palma da mão. Ouvia-o suplicar. Ouvia-o lamentar baixo, recitando sempre o mesmo verso, o mesmo verso. Sentia-o na garganta, quando engolia dolorido, ou respirava em falso. Sentia-o envolta de si, pulsando sanguinoso. Os dentes arranharam levemente o contorno da coluna, caminhando pelos nervos, desenhando as vértebras, navegando nas ondulações das costas fracas, apreciando a estática que transparecia na palidez da pele. Os cílios esbarravam-se tímidos, os olhos fitavam-se brevemente, receosos por transparecer demais. Tornavam-se líquidos, escorriam pelas maças do rosto, aqueciam-se até chegarem aos seios, perdiam-se no abdômen e não retornavam mais. Permaneciam-se soltos, errantes pelos corpos contornados, no ar rarefeito, na terra já distante, simplória, vazia, errante, que recitava sempre o mesmo verso,

o mesmo verso


.



domingo, 14 de março de 2010

que começo tendencioso, escrevo.
desculpem-me,
na minha vida sou tudo,
menos imparcial.

quinta-feira, 4 de março de 2010

planeta

que importância
tens, além daquela
que superestima
seu frágil intelecto?
és cego,
és mudo,
és morto.
não és nada além de
pó.
então por que não
contenta-te com a verdade
e segue de cabeça baixa?

quarta-feira, 3 de março de 2010

fotos

sussurro seu nome baixinho
depois me calo
(pelo que sinto)
por uma
eternidade.

eu sinto.
eu sinto demais.

segunda-feira, 1 de março de 2010

novamente, igual.


o líquido de nossa
juventude se extravasa,
viscoso,
dolorido,
de nossa mente
estupefacta.

perdido nos limites
de nossas próprias
ideias, dilui-se
perde-se.

idéias, idéias,
tolas,
mas que um dia
foram sinceras.