quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Coagulado

As lágrimas que escorriam pelo rosto nunca arderam tanto. O medo que pulsava em seu peito fazia doer ainda mais os hematomas e a humilhação que se estendiam por todo corpo. No abdômen jazia um corte profundo com estilhaços de vidros que ainda sangravam de forma fluente. O lábio estava rachado pelo frio constante dentro daquele cubículo mórbido de concreto gélido, e cada gota salgada que ousava tocar na pele sensível causava uma verdadeira repulsa de dor. Doía até em partes que pensou que jamais sentiria tal sensação. O corpo que já tivera a pura cor rosada se tornara de um vermelho seco. Queria gritar, queria se soltar daquelas grandes corrente pesadas de metal que lhe apertava de forma impune os pulsos finos. Mas não podia, sabia que se o fizesse sofreria mais do que já havia sofrido até agora. E mesmo que pudesse, não conseguiria. As forças já se esvaíram do seu corpo a muito e a única coisa que podia fazer era chorar e pedir a deus um pouco de misericórdia. Os pés doíam pelo peso constante do corpo desmantelado e suas juntas estavam tão fracas que por um instante agradeceu estar presa aquelas correntes acima da cabeça, porque se não de um ímpeto seu corpo iria ao chão como um pedaço de carne inanimado. Talvez naquele ponto, seu corpo já não tivesse mais vida mesmo. Não passava de um objeto de tortura e prazer que nem mais obedecia aos comandos de sua mente enfraquecida. Em um súbito a porta de metal grossa se abre, causando um grande estardalhaço contra a parede de concreto, fazendo ressoar o barulho em um eco quase ensurdecedor aos ouvidos tão calejados. Ao ver a figura, aquela massa disforme de sombra e pavor que um dia já tivera características humanas, as mãos tremeram e as pernas bambearam e quase cederam. As lagrimas caiam dos olhos já quase sem controle, elas caiam e se misturavam com o sangue proveniente de um corte no queixo, fazendo arder ainda mais.

- Não, não... – Disse aquela criatura grotesca erguendo de leve o queixo da garota. – Porque está chorando?- A garota mordeu os lábios quase se esquecendo da dor estrondosa que aquilo lhe causava. – Nós ainda nem começamos a nos divertir ainda... – Disse ele deixando escapar um sorriso psicótico no cantos dos lábios. A menina grunhiu alto trazendo a tona várias lembranças do que essas palavras já vieram a causar.
- Por favor...- Disse ela entre os suspiros baixos de pavor. – Por favor... Não me machuque! Não mais... Eu prometo fazer tudo que você quiser mas por favor não me machuque mais...- Disse tentando formar alguma frase de súplica entre as lágrimas e soluços. Ele a olha com um ar piedoso que lhe causa terror.
-Oh não... Assim não tem graça! – Ela sente escorrer uma gota grossa de sangue dos lábios rachados, violentamente pressionados contra os dentes. – Eu terei o que eu quero, garota – Disse apertando o rosto desta entre o polegar e os demais dedos, de forma brusca. – Você vai me amar como nunca amou ninguém. E vai dizer isso do seu coração.
– Disse apontando com a outra mão para o seio quase descoberto da garota. – Entendeu? – Ela tenta engolir o pouco de saliva que umedece sua boca e depois acena levemente entre os dedos finos do torturador. – Ótimo. Devemos começar agora?

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