sexta-feira, 21 de novembro de 2008

L’Hôtel

-Não vou dizer que foi fácil, por que estarei mentindo. - Disse brevemente voltando o cigarro já um pouco queimado para os lábios crispados. Sorveu-o lentamente, desfrutando a sensação. O corpo estremecera por um instante. Os olhos voltaram-se então, para o vazio da rua que se movia ironicamente calma, fazendo-a fechar a feição em uma lembrança distante. Permaneceu assim por algum tempo, com a fumaça presa dentro da boca implorando para sair, assim libertou-a, delicadamente, deixando-a deslizar agoniada pelas frestas vermelhas do batom. Suspirou profundamente em um uma ação tão profunda que fez seu peito doer.
-Sinto muito que você tenha passado por isto... – Disse reticente a voz grossa que soou pela nuca da dama à frente. Ela sentiu os braços grossos envolverem sua cintura por trás e o peito largo do cavalheiro acalentar as suas costas desnudas pelo decote generoso do vestido de gala. A sensação do pano em sua pele fina fez seu corpo se arrepiar. Conseguia sentir respiração do amante em sua nuca. Quente e úmida. Ela suspirou trepidamente mais uma vez. Virou seu rosto para fitar o do outro e um sorriso vermelho triste se transpareceu em seus lábios.
- Eu também sinto... – O sorriso se desfez tão rápido quanto as cinzas do cigarro em suas mãos. Sorveu-o pela ultima vez antes de apagá-lo no cinzeiro sobre o criado mudo do quarto de hotel. Mordeu os lábios e pensou por mais algum tempo. Assentiu levemente e pôs-se a arrumar a sua pequena bolsa brilhante.
- Você tem certeza disso? – Disse o cavalheiro que a observava perambular pelo quarto afoita buscando algo que ele não soube identificar. Ele cruzou os braços esperando pela resposta. Ela sentou-se na cama para calçar os finos sapatos negros e olhou-o de relance.
- Não, não tenho. E você? – Ele permaneceu sério, como se não esperasse pela resposta. Se endireitou, apoiou-se na mesa , torceu os lábios e negou.- Ótimo. Temeria-o se tivesse. – Ele bufou sério e encarou a outra parede do quarto. Ela colocou a bolsa nos ombros e se aproximou. – Ela está com você? – Ele permaneceu um tempo a encarar seu semblante belo que se aproximara. Seus olhos nunca pareceram tão sombrios. Aquilo o assustou.
- Sim. Ela está no carro. - Ela afirmou firmemente e sussurrou o que pareceu um ‘ótimo’. Virou-se e pegou a chave do quarto que estava sobre a cama.
- Vamos? – Ela disse abrindo a porta e esperando ele que passasse. Hesitou por um limiar de segundos que o pareceram a eternidade. Mas contentou-se com um breve ‘sim’ e saiu.
O asfalto molhado fazia ressoar ainda mais o barulho dos saltos pela garagem do hotel. Barulho que pareciam ensurdecedor para ele. Fitou-a. Ela colocava as luvas de couro negro com uma grande indiferença. Ele sabia que ela tinha mentido. Ela tinha certeza do que estava fazendo. Ela percebeu seus olhos nela e quebrou o silencio.
- Ela está no seu carro, certo?- Verificou mais uma vez. Ele fez que sim com a cabeça. -Eu realmente espero que ela esteja carregada.

3 comentários:

Anônimo disse...

Acho que eu cheguei a falar isso numa poesia sua, mas eu adoro finais "difíceis de se prever"

Tbm gosto desse estilo "Tim Burton" de acabar no climax =D~~~~

Seus contos são MUITO legais =p

Anônimo disse...

perfeição...
parabéns !

Lucas Madi disse...

Sinceramente, gostaria de escrever histórias deste jeito. Muito bom mesmo, estou impressionado.
Parabens